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COVID-19, Saúde Mental e o Suicídio

  • Foto do escritor: Tiago Martins
    Tiago Martins
  • 9 de jun. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 17 de set. de 2020



Com o desemprego a aumentar em flecha, tal como a incerteza e o encerramento de vários pequenos e médios negócios ou a adaptação dos mesmos ao novo cenário no contexto da pandemia de COVID-19, é natural que se comece a debater não apenas os indicadores económicos e financeiros em baixa durante a pandemia, mas que também a saúde mental se misture nas consequências do confinamento e das medidas restritivas.


Com as linhas de ajuda psicológica congestionadas em mais de 800% do tráfego natural, o suicídio tem aumentado em vários pontos do globo, e os especialistas acreditam que esta tendência está estritamente relacionada à pandemia provocada pelo novo Coronavírus, que tem afetado a saúde mental dos indivíduos em várias variáveis.


Dados retirados a 30 de Maio da Gisandata, da John Hopkins University, indicam que o número de mortes por suicídio durante a pandemia ultrapassam as mortes provocadas pelo COVID-19:

  • Suicídio: 443,421

  • COVID-19:  367 627


A American Psychological Association refere que o distanciamento social e o confinamento podem estar a piorar os indicadores de saúde mental dos cidadãos que sem emprego, e fechados nos seus lares correm maior risco de tendências sucidas, abuso de substâncias e violência doméstica por parte de parceiros ou pais violentos.


Segundo o The Lancet, um estudo que durou de 2000 a 2011, verificou que existe risco acrescido de suicídio na ordem dos 20 a 30 por cento em correlação significativa com o desemprego.



O caso americano


O condado de Knox no Tenessee, teve um registo de 9 suicídios em 48 horas na última semana de Março, enquanto o Coronavirus deixou sem emprego cada vez mais pessoas na região. Por esta altura apenas exisitiram 6 fstalidades em todo o Estado do Tennessee por COVID-19, sendo assim um número menor do que as mortes por suicídio na região de Knoxville, um Condado no Estado do Tennessee.


O Departamento de Saúde do Tenessee perante estes números e a situação desesperante que algumas famílias enfrentam, perguntou-se então se estariam a tomar as medidas certas com o lockdown. De acordo com o WBIR - estação noticiosa local -, este número de suicídios registado em apenas 48 horas, perfaz 10 por cento do total de suicídios durante 1 ano em média no Condado.


No Tenessee, o confinamento foi tornado obrigatório apesar de algumas cidades e condados não terem cumprido o mesmo. Em Knoxville muitos negócios continuaram abertos numa forma de desafiar as autoridades do Estado do Tennessee, que pediram o seu encerramento, sem sucesso.


Outros estados como Massachussets e Oregon também se vêm perante um aumento significativo de suicídios nestas últimas semanas e linhas de ajuda ao suicídio impedidas. Ambos estes estados possuem leis de confinamento restritas.


Em Portland, o Chefe da Polícia local Jami Resch, afirmou que as tentativas de suicídio ou ameaças de suicídio aumentaram cerca de 41 por cento, em relação ao período homólogo no ano passado, e aumentaram 23 por cento desde o início do confinamento. Allysen Efferson, terapeuta no Tennessee de Leste, afirma que as ligações entre problemas financeiros ou de emprego e suicídio são uma correlação bem conhecida das ciências sociais e dos vários ramos da psicologia, alertando assim para uma necessidade urgente de combater este tipo consequências resultantes da epidemia. Efferson admite que os media e a incerteza acerca do futuro têm contribuído para o aumento deste fenómeno.


O médico norte-americano, Mike deBoisblank, assumiu em declarações à imprensa que o hospital onde trabalha, na Califórnia, EUA, tem recebido mais casos de mortes por suicídio do que vítimas do coronavírus.Para o médico, a Covid-19 não pode ser apenas vista como uma doença que afeta o paciente fisicamente mas também a nível psicológico.Segundo o profissional, as medidas de confinamento decretadas um pouco por todo o Mundo devem ser retiradas o quanto antes pois estão a ter um forte impacto negativo na saúde mental das pessoas.Mike deBoisblank disse mesmo que em apenas quatro semanas o hospital recebeu tantos casos de tentativa de suicídio como os que se tinham registado num ano.


Alguns profissionais de saúde têm dito que o número de suicídios durante a pandemia tem sido inacreditavelmente alto, tendo mesmo ultrapassado números médios anuais, em apenas alguns meses.


A Bloomberg noticiou a 31 de Março de 2020, que alguns hospitais chegaram a ameaçar alguns doutores de os despedirem no caso destes virem falar de falta de meios ou de outros problemas relacionados com a pandemia.


Ming Lin, um fisioterapeuta das urgências em Washington chegou memso a perder o emprego após conceder uma entrevista, alertando para falta de meios de proteção dos profissionais de saúde e para problemas relacionados com os testes ao COVID-19. Após estes acontecimentos e embates, um númer de 600 médicos enviaram uma carta a Trump a pedir fim de confinamento por razões relacionadas com saúde mental dos pacientes. A carta indica que mais de 10 milhões pessoas estão em risco de contrair e agravar doenças mentais que podem aumentar em grande escala o risco de suicídio.



O risco nos idosos


O numero de suicídios em lares de idosos aumentou substancialmente desde que foram impostos os limites e proibições em visitar os idosos nos estabelecimentos. Este aumento está a preocupar os especialistas. A partir de 18 de maio, estas mesmas restrições foram revogadas, levando a que o numero de visitas aumentasse de novo e o de suicídios diminuisse.


O presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) reconhece que serão necessários "muitos cuidados" para garantir a segurança e a saúde de quem vive nos lares, mas acredita que "com a programação das visitas (...) e a dedicação dos trabalhadores e dos dirigentes nos lares, tudo será bem caminhado".


As tentativas de suicídio têm então crescido exponencialmente nos idosos do sexo masculino, grupo esse que já antes da pandemia era considerado o grupo mais vulnerável a cometer suicídio, e que é também o grupo com maior percentagem de infetados. Ansiedade, depressão e isolamento social podem estar na origem deste aumento de suicídios, mas também outro fator aparentemente significativo: hipoxia causada por vírus de cariz respiratório.


Num estudo da American Medical Association encontrou-se uma relação significativa entre sobreviventes afetados pela anterior SARS na Singapura entre 2002-04, e um exponencial aumento de idas ao psiquiatra - 44 por cento -, com 1 em 5 trabalhadores a dizerem-se sem condições mentais para voltar ao trabalho.


Em Hong Kong, a saúde mental dos ex-pacientes afetados pelo SARS piorou substancialmente, e um elevado número de trabalhadores do setor da saude que lidaram de frente com este problema diz que não conseguiu voltar ao trabalho.


Sendo o COVID uma doença respiratória que afeta sobretudo idosos masculinos, que são também mais prospensos a cometer suicídio, e tendo em conta que foi descoberta então uma relação entre antecedentes de doenças relativas a hipoxia e um aumento em 4 vezes superior de risco de suicídio. Assim, verifica-se que não apenas o desemprego e o confinamento contribuem para o suicídio, mas também a própria doença respiratória provocada pelo Coronavirus pode ter efeitos perversos nesse sentido. Isto faz com que haja um fervorosos debate entre especialistas de saúde mental entre qual a melhor opção acerca do confinamento, pois estes dois dados indicam que quer uma, quer outra opção podem aumentar o risco de doenças mentais, por razões distintas, mas igualmente perigosas.

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